30.5.11

AUTONOMIA!

cada vez mais acredito que o caminho para a autonomia é através do auto-conhecimento.

nosso inicio de vida é autônomo, por nossa capacidade de auto-criação (autopoiese), desde o ventre da mãe, a partir do encontro de duas células, sua multiplicação se da de forma autopoietica (ação de criar-se a si mesmo continuamente).

desde sempre somos autônomos.
a autonomia implica a interdependencia, a troca, a relação; não é um ato isolado e independente do mundo que o rodeia.
assim seguimos nos auto-criando após o nascimento, com o desenvolvimento de nosso corpo, de nossas percepções, de nossas ações, sempre em relação, mas visivelmente sendo uma construção a partir de nossas forças internas; facilmente constatado pelo modo singular com que cada um se desenvolve, pois temos nosso ritmo próprio, nossas prioridades biológicas e anímicas, nosso sentir e agir no mundo de modo muito particular.

começamos a perder a autonomia quando nos fazem crer que para sabermos algo precisamos aprender através de forças externas, que para nos desenvolvermos precisamos nos enquadrar em um esquema padrão pré-determinado que nos moldará afim de nos tornar cidadãos dessa sociedade.

durante todo esse processo, que dura anos, deixamos de investir e acreditar na nossa capacidade autônoma e singular de nos criarmos a nós mesmos, deixando adormecida nossas pulsões e nossos desejos.

apesar de nossos desejos e pulsões adormecidos, algo ainda permanece vivo em nós, que nos faz sentir incomodados por termos nos afastados de nós mesmos, pela perda de autonomia, pela sensação de impotência e de falta, que esse processo da não-autonomia produz em nós.

por isso a reconquista da condição da autonomia inicia-se com o auto-conhecimento, que se desdobra em muitos meios.

existe o auto-conhecimento biológico da existência humana que é comum a todos nós, e que pouco sabemos dele, pois não faz parte do currículo escolar, e quando entramos em contato com as condições biológicas surpreendentes dos seres humanos, muitos dos nossos conceitos se transformam e se transmutam (recomendo o autor humberto maturana e j.v.uexkull com os livro "dos animais e dos homens").

existe o auto-conhecimento do nosso modo singular de pensar, sentir e agir sobre o mundo, que não é uma forma pré-estabelecida, mas tendências e forças que quando as conhecemos podemos jogar com elas sempre a favor do desenvolvimento de nossa potencialidade.

trazer a superfície nossos pensamentos, nossa imaginação, nossos medos, nossas questões, sem necessariamente buscar por soluções, mas para abrir nosso processo de intimidade, de interdepedencia e de ação .

minhas experiências mais fortes de autoconhecimento, foram durante minhas duas ultimas gravidez e partos, processos que me convidaram a entrar em contato com minha sombra e minha luz; assim como tem sido o processo de desescolarização de meu filho e do unschooling de minhas filhas.

trazendo sempre para superfície as forças internas e externas que em atravessam, e assim podendo viver um intenso processo de conhecer, re-conhecer, desconhecer, criar e re-criar minha existência.

17.5.11

DIRETO AO ASSUNTO!

desescolarização é o processo de dar-se conta dos padrões que assimilamos através do processo escolar para então ter a opção de desconstrui-los.

só tem necessidade de descolarizar aquele que foi escolarizado e que sente-se limitado por isso.

nossas escolas seguem o sistema espartano, que iniciou-se como escola para formar soldados, depois a igreja apropriou-se do mesmo sistema para formar cristãos, a industria usou para formar seus trabalhadores, o capitalismo tem formado seus mercenários e a democracia seus soldados democratas.

não importa qual exatamente o fim, qual tipo de soldado é necessário, o sistema escolar espartano forma soldados para ocuparem um lugar pronto.

as vezes nos damos por satisfeitos quando a escola forma um tipo de soldado que acreditamos ser necessário, porem existem pessoas, principalmente crianças dos dias de hoje que não aceitam fazer parte do exercito, mesmo que seja um exercito simpático.

aprendi isso com meus filhos e outras crianças!

crianças que não vão a escola não precisam serem desescolarizadas, para elas existe o unschooling (tema para um próximo post).
crianças que já foram a escola e que param de ir, podem facilmente serem desescolarizadas.
adulto que se formou em escola espartana, com direito a faculdade espartana, pós, mestrado, doutorado, pós-doc, e que vive em sistema espartano, pode até sentir-se atraído pela possibilidade da desescolarização, mas vai precisar transmutar!!!

a dificuldade aparece logo de inicio, pois o escolarizado pensa como escolarizado, então fica imaginando que a desescolarização é a falta da escolarização.
mais ou menos como alguém que tem a visão se sente em relação ao cego, pois para quem enxerga pensa na cegueira como falta, mas ao cego não falta a visão, ja dizia nietzsche!

segue abaixo os domínios da escolarização e da desescolarização para entendermos que são paradigmas diferentes, por isso pensamos, sentimos e agimos de forma distinta dependendo em que domínio estamos vivendo:

domínios da escolarização:

*busca do resultado final em todos os seus processos
*necessidade da resposta certa, de garantias
*prefere unir-se para desabafar, reclamar e protestar ao invés de que encontrar processos que transmute o problema
*cumpre ordens e sente frustração; é irresponsável pelas escolhas que faz, e sente culpa
*confia em todas as provas cientificas
*acredita no que "ouve dizer..."
*sente impotência e medo diante do desconhecido
*desqualifica a natureza, inclusive a sua própria natureza
*cria fantasias e acredita em conflitos
*especula
*tem o habito da comparação e do julgamento
*luta pelo poder
*gosta das certezas invariáveis e os conceitos fixos
*vive em crise
...

domínios da desescolarização

*confia na natureza
*busca processos e meios pelos quais poderá viver seus problemas
*problematiza o que lhe interessa
*assume responsabilidade por suas escolhas
*é ativo em suas ações
*investe no corpo organizado e confia na deriva
*confia na intuição e na sua capacidade criadora
*é criador de realidade
*não tem conflitos
*luta pela potencia
*re-cria suas certezas
...

talvez não seja tão simpático colocar essas listas acima em um post, conversando sobre o assunto fica mais convincente e menos dramático, mas é que toda vez que ouço alguém sob o domínio da escolarização questionar a desescolarização, suas questões confirmam os itens acima referentes a escolarização, porém são problemas que não pertencem a desescolarização.

claro que a escola espartana é uma ferramenta do sistema que a sustenta, mas é um sistema bem eficaz que nos torna soldados do próprio sistema, mesmo que sejam soldados rebeldes, continuam alimentando esse modo de vida.
por isso me parece bem produtivo transmutar esse modo conflituoso de vida através da desescolarização.

esse processo que estamos vivendo, nos encontros desescolarizantes, são para os adultos criarem e praticarem seus próprios caminhos de transmutação.
por mais que o incomodo seja, em muitos casos, o processo escolar dos filhos, o trabalho precisa começar em nós, porque enquanto estamos pensando, vivendo e agindo sob o domínio da escolarização, não temos outra saída a não ser desabafar, reclamar e esperar passar essa fase escolar dos filhos.

nosso próximo encontro em são paulo será no dia 26 de maio, quinta-feira, as 20hs na aclimação.
para mais informações mande um e-mail para anathomaz@terra.com.br