11.11.12

POTENCIA EM PRATICA - DIY (do it yourself)

vamos a pratica

eu acredito que só poderei compartilhar o meu processo, pois não ha regras a serem seguidas muito menos formulas que garantem qualquer sucesso

de uma certo modo, essa pratica está descrita em varios posts desse blog, mas vamos a exemplos que talvez possam encorajar a que cada um crie sua propria pratica

dia desses eu estava no sitio com minhas filhas, na hora de dormir, descemos para nosso quarto que fica afastado da casa principal, porem antes de descer minha filha tinha me pedido para escolher um lençol bem lindo para colocar na cama dela, ela escolheu tres lençois, eu expliquei que ela precisaria só de dois e entendi que ela tinha escolhido dois daqueles tres, mas quando chegamos no quarto ela ficou furiosa porque eu só tinha levado dois lençois, e como eu não iria voltar até a casa principal para buscar mais um lençol, ela teve um ataque daqueles bem poderosos...

eu decidi investir na potencia e não no poder

isso quer dizer, trabalhar em mim, na minha potencia e não sobre minha filha, testando a força do meu poder

fiquei bem presente, atenta a ela e percebendo como me sentia diante daquela situação, me dei conta da minha frustração por ter uma filha que estava chorando sem nenhum motivo legitimo

e assim inverti o problema para mim: meu problema era ter uma filha que não estava me fazendo sentir ser uma mãe maravilhosa...meu problema era que minha filha não pensava e não sentia como eu gostaria que ela sentisse e pensasse...meu problema era...

e assim, assumindo meus problemas, percebi que não precisava desses problemas, minha filha não precisava me fazer sentir uma mãe maravilhosa e assim por diante

no meio desse processo (que duram minutos) me vejo tentando descobrir qual seria o real motivo para minha filha estar tendo aquele ataque, e então me vejo transformando algo

para mim não era, pelo menos naquele momento, importante descobrir de quem ou do que era a culpa do estado em que ela se encontrava, então decidi saber o que era importante para mim viver aquela situação, o que estava acontecendo ali comigo; de um certo modo, poderia dizer que eu teria que aproveitar essa provocação, essa situação, para trabalhar o que em mim estava se apresentando

enquanto eu fazia todo esse trabalho interno, me mantive atenta a ela, não tinha abandonado o acontecimento, estava ali, presente, e assim que ela soltou um grito mais fragil, instintivamente, ofereci colo para ela, que foi aceito imediatamente, e deitamos na minha cama, juntas em silencio

logo em seguida ela solta um suspiro aliviada e diz: "caramba, acho que eu não ia sair dessa sem a sua ajuda!"

eu continuei em silencio, mesmo porque não tinha ideia do que falar

na sequencia ela levantou muito animada e disse: "hoje eu vou dormir sozinha, vou para minha cama, vou fechar meus olhos e dormir...boa noite mãe, durma bem, tenha lindos sonhos", me disse aquela menina totalmente lucida

foi para sua cama, fechou os olhos e dormiu

no dia seguinte acordou dizendo: "mãe, voce viu que deu certo, fechei meus olhos e encontrei o sono sem precisar de ajuda"

naquela noite, minha outra filha resolveu que era seu momento de catarse

sem nenhum motivo legitimo (para minha percepção) antes de dormir, ela soltou sua insatisfação, aos gritos...la vou eu, de novo, entrar em contato com o que eu sinto, o que pode me apresentar aquela situação, sem ter ideia de qualquer coisa que eu poderia fazer para ela, sempre presente e atenta a minha filha, porem só pensando em mim

me encontrei com muitas coisas em mim, coloquei minhas emoções para fluirem, me livrei de algumas encrencas internas, mas em nenhum momento surgiu a possibilidade de acudi-la, pois não era o que ela queria, aceitei que ela queria chorar um pouco mais e sozinha

diminui as luzes do quarto, me deitei no outro canto da cama, senti uma paz interna que me dava a possibilidade de apoiar o choro de minha filha sem ter nada mais para fazer

estava pronta para escuta-la chorando a noite toda, pois me sentia tranquila e o caminho livre para trabalhar sobre minhas emoções

mas logo, ela que estava deitada sozinha, no cantinho da minha cama, foi parando de chorar e caiu no sono

só quando ela ja estava dormindo, coloquei ela em sua cama, e fiquei ali, abraçada a ela e muito alegre por ser mãe daquela menina

dia seguinte ela acorda e diz: "voce achou que eu fosse ficar chorando e nunca mais dormir? mas nunca a gente chora pra sempre"

desde então não tivemos outros momentos catarticos aqui em casa, mas não faltam oportunidades para trabalhar a potencia nas pequenas provocações diarias





resumindo o processo:

a provocação acontece, esteja presente, fique em contato com o acontecimento, perceba seu estado fisico e emocional, perceba que provavelmente não é aquela pessoa só que está com problemas, mas voce também se encontrará com sua emoções que estão ali, bem guardadas, e que se apresentam disfarçadas com o problema do outro

ninguem é capaz de nos fazer sentir algo, nós sentimos aquilo que ja temos dentro de nós, e esses sentimentos, que ao longo da vida tornam-se ressentimentos, são o que nos determinam, isso é, diante de uma situação não conseguimos lidar com a situação em si, mas sim com nosso ressentimento

niestzsche diz que todas as nossas doenças, fisicas e emocionais, iniciam-se no ressentimento

grande oportunidade ter filhos para revelarem nossos ressentimentos mais secretos, para termos a possibilidade de coloca-los para fluir, transmuta-los e assim seguir com a vida mais saudavel e alegre

e quanto aos nossos filhos, seremos testemunhas do desenvolvimento de suas potencias, e certamente, eles serão inspirados por presenciarem o desenvolvimento de nossas potencias, bem ali, diante deles




6.11.12

MANUAL PARA POTENCIA

prometi um post com praticas da educação para a potencia

aqui vai

queimem todos os livros, principalmente os mais inspiradores

desconecte a internet, incluindo todas as discussões no facebook sobre educação

deixe de ir a palestras

não tenha gurus

nem professores

mas não se isole do mundo

continue relacionando-se

com pessoas

com a propria pessoa e não com o que ela representa - mãe, pai, filho, chefe, empregado, caixa de supermercado, etc

relacione-se com aquela pessoa e não com sua ocupação

sinta a relação em voce, no seu corpo

entre em contato com as emoções

lembre-se que voce queimou os livros, desconectou-se da internet, e não poderá buscar mais referencias fora, terá que se enfrentar

sua mente não terá outro lugar para se apoiar, a não ser seu proprio corpo

no começo ela vai estranhar, pois faz muito tempo que ela anda em outros "corpos", representante de ideias e ideais

a mente terá que aprender a conviver com a emoção, com a intuição, com as percepções, com o inconsciente, com todas as forças que compõe seu corpo

com o tempo ela aprende de novo a gostar desse lugar, que é o seu lugar

e la estará voce, inteiro, sobre os proprios pés, sustentado pela propria coluna, norteado por sua cabeça (literalmente)

intimo de si mesmo

e sabendo que toda essa existencia se faz na relação

com o outro

o outro pessoa, animal, planta, paisagem, espaço...

nessa condição, potente, voce pode voltar a se encontrar com livros, internet, discussões no facebook, professores, gurus...

porque voce será unico, singular e estará se encontrando com o outro que também é unico e singular, e não mera representação do tipo que todos aprendemos a ser em nossos anos de escolaridade

a mente fora do corpo é a mente do poder, que abandona a singularidade da existencia, e sua potencia; e na impotencia precisa de algo que a faça existir, regra, ordem, um chefe, teorias, cargo, nome, classe, seguro saude, uma causa, uma luta, um ideal, reconhecimento, titulos, governo, vicios, hobby, habitos, rotina, certezas, segurança, garantias...

o corpo, a potencia, não precisa de nada disso, pode até ter tudo isso, mas precisar, não precisa

a potencia precisa de uma unica coisa, existir plenamente, o que vem depois é efeito

31.10.12

EDUCAR PELA POTENCIA

dias atrás, dei essa entrevista para mauricio curi da educartis, onde todas as quintas-feiras as 17h ele entrevista alguem para falar sobre experiências de educação livre que é transmitida ao vivo pelo canal da educartis

algumas pessoas me procuraram depois para seguir discutindo o tema da educação pelo poder e educação pela potencia

gostaria de começar falando sobre nossas praticas de poder na educação das crianças

três exemplos comuns de poder - ameaça/castigo, recompensa e explicação

exemplos da pratica desses poderes - a criança grita (em um ato mal-criado), o adulto (bem intencionado) explica: não grite meu bem... e explica o porque a criança não deveria gritar,
ela segue gritando, e o adulto (ainda bem intencionado) promete: se você parar de gritar...
a criança segue gritando, o adulto já sem paciência ameaça: se você continuar gritando...

o poder não funciona no corpo potente da criança

na situação acima, o que teremos é a revelação da impotência do adulto diante da criança, e onde há impotência, encontramos a vontade de poder


poder está na mente que exclui o corpo, onde todo o processo racional acontece "fora" do corpo, essa mente pertence ao poder/cultura patriarcal

assim falamos, agimos e pensamos como representantes de ideias e ideais, em nome de uma cultura, de um habito, de um conhecimento

aprendemos (ou ensinamos) pelo poder quando todo o processo se da pela aquisição de conhecimento, onde acumulamos para ter mais, saber mais e poder usar mais o que se aprendeu

jorge larrosa nos ajuda a entender a pratica da vontade de poder em relação as crianças

a infância é algo que nossos saberes, nossas praticas e nossas instituições já capturaram: algo que podemos explicar e nomear, algo sobre o qual podemos intervir, algo que podemos acolher...nós sabemos o que são as crianças, ou tentamos saber, e procuramos falar uma língua que as crianças possam entender quando tratamos com elas, nos lugares que organizamos para abriga-las.

e larrosa segue com a vontade de potencia


o nascimento nos introduz num tempo em que o futuro não é consequência do passado e em que o que vem ao mundo não é dedutível do que já existe no mundo. pelo fato que constantemente nascem seres humanos no mundo, o tempo está sempre aberto a um novo começo: ao aparecimento de algo novo que o mundo deve ser capaz de receber, ainda que para recebê-lo, tenha que ser capaz de se renovar; a vinda de algo novo ao qual tem que ser capaz de responder, ainda que, para responder, deva ser capaz de se colocar em questão.

na entrevista afirmei que me propus a educar meus filhos pela potencia e não pelo poder

nem sempre consigo, mas quando acontece fica claro que esse é um caminho muito possível de ser construído e que neste momento a cultura se transforma deixando de ser cultura patriarcal e gerando a cultura biológica, chamada por maturana de cultura matristica

para educar um filho pela potencia é necessário investir no nosso corpo, não em músculos, ou postura, etc. mas um corpo de fluxos, de encontros, de acontecimentos, de devires

a potencia está no corpo, um corpo autopoietico (que se constrói a si mesmo constantemente), um corpo conectado, fluido, um corpo como encontro de forças que o atravessa

na potencia o aprendizado se da pelo corpo, pela experiência, que inclui o processo mental, assim como o emocional, o cognitivo, as percepções, a intuição... nesse processo que se da através do corpo entro em contato com aquilo que não-sei-que-sei e quando me encontro em uma situação de demanda, posso, através do encontro com a criança e a situação, criar um caminho (sempre inédito) de educação ao lado de meus filhos

o corpo potente é o corpo do paradoxo, é um corpo que não sentimos e ele está la, acordado, presente e ativo, assim como o corpo da criança que é fluido, passa de um movimento para o outro sem esforço, um corpo que não é uma prisão mas sim uma possibilidade

precisamos recriar nosso corpo (nossa cultura) para uma educação para potencia

com um corpo que liberta a vida

ps. prometo um post inteiro com exemplos práticos da educação pela potencia, pois nossos processos mentais adoram um exemplo...

17.9.12

TaKeTiNa 2012

não é de hoje a minha paixão por essa experiencia polirritmica que vivemos a cada encontro que nos ultimos 5 anos estamos trazendo para são paulo, buenos aires, salvador e vale do capão

experimentei taketina pela primeira vez no ano 2000 em londres e ainda me é muito presente a sensação de encontrar o estado de estar presente como nunca tinha vivido antes

desde 2008 firmei essa parceria com henning von vangerow, um professor de taketina muito experiente, além de ser psicologo, ator, musico e uma pessoa encantadora

nesse blog tem alguns posts sobre essa experiencia, procure por taketina e la voce encontrará um pouco da amplitude dessa experiencia

nosso workshop será nos dias 20 (sabado) e 21 (domingo) de outubro das 14h as 18h

Local: Caleidos

Rua Mota Pais, 213

Vila Ipojuca - Lapa

São Paulo - SP / 05054-000

Incrições: anavidaativa@gmail.com

valor 300 reais

atenção: este ano teremos somente 30 vagas

9.9.12

UMA NOVA CULTURA

estamos livres dentro da prisão da cultura patriarcal

podemos escolher como viver, como educar nossos filhos, como parir, como sepultar nossos mortos, ser religioso ou ateísta...estamos livres para escolher como viver, dentro da prisão da cultura patriarcal

por isso nossas escolhas são tão reducionistas

por isso as mudanças são tão conflituosas

estamos sempre em reforma e somente em reforma

porque vivemos nossas vidas cotidianas sustentando a cultura patriarcal

mudamos, mas não transmutamos

como define humberto maturana, a cultura patriarcal se caracteriza pela competição, pela luta, pelas hierarquias, pela autoridade, pelo poder, pelo crescimento, pela apropriação de recursos, pela justificação racional do controle e da dominação dos outros por meio da apropriação da verdade (pelo conhecimento)...

e esses continuam sendo nossos valores, de modo mais grosseiro ou mais refinado

ou não falamos em lutar por um mundo melhor? em fazer bom uso do poder? em educar nossos filhos para serem alguem na vida? em querer usar o nosso conhecimento e capacidade intelectual para convencer alguem a pensar do modo que acreditamos ser o melhor para todos?

na nossa cultura patriarcal não aceitamos os desacordos como situações legitimas, se há desacordo há rompimento...

então o que estamos fazendo? mudando o método de ensino? tirando os filhos da escola? parindo em partos humanizados? criando rituais? tudo isso e muito mais sem abrir mão da cultura patriarcal

deixamos de lado as instituições e imediatamente criamos outra

por isso estamos em crise

não da para querer continuar a vida do mesmo modo e ao mesmo tempo querer que tudo mude e simplesmente fique melhor

a necessidade genuína de uma mudança na educação de nossos filhos, na mudança no modo de nascer e morrer, na mudança de vida implica em ir além da liberdade dentro da cultura patriarcal

uma nova cultura precisa ser criada para sairmos desse lugar tão desconfortável e conflituoso

quem cria e sustenta uma cultura é cada um de nós

a criação de uma cultura começa em cada um de nós, independente de uma sociedade

somos criadores de realidade, se criamos em cada um de nós uma nova cultura, essa cultura surgirá

se queremos viver em colaboração, temos que deixar de viver em competição, simples assim, nem mesmo competir com o velho paradigma, e vivendo em colaboração criamos um modo de vida colaborador

por isso que o trabalho é em cada um de nós e não no mundo

em cada um de nós e com o mundo

esse cada um de nós que está dentro e fora ao mesmo tempo

esse cada um de nós que surge nas relações

não se transmuta no isolamento

se transmuta no cotidiano, em ato, no acontecimento

não é no futuro

se transmuta hoje e agora, é só exercitar, insistir, ficar atento, confiar na capacidade de amar incondicionalmente e aos pouco o mundo vai clareando, a realidade vai sendo criada, e a vida torna-se necessária e cheia de sentido






1.9.12

MÃOS A OBRA!

na nossa escolarização desenvolvemos a crença de que há uma realidade pronta e que precisamos aprender a ser alguem nessa realidade

mas sempre existiu essa realidade? a vida sempre foi assim? - essas são perguntas desconcertantes feita por uma criança de 6 anos

de modo genial humberto maturana, biólogo pesquisador, nos inspira em seus escritos comprovando que nós somos criadores de realidade, não somos vitimas de uma realidade pronta, somos cúmplices

apesar de não nos darmos conta vivemos na realidade de criamos, aprendemos a criar essa realidade através de crenças, de hábitos, por conta do medo em assumir a responsabilidade dessa criação e a capacidade real que temos de transmutar

mas podemos perceber que de modo consciente ou inconsciente estamos criando outra realidade, e alguns, mesmo sem se dar conta já estão participando dessa criação, apesar de se acharem simples espectadores dessa outra realidade

vi isso acontecer ontem em um encontro estimulante que tivemos na casa jaya onde assistimos parte do documentario la educacion prohibida

todos que estavam ali presentes, faziam parte da criação dessa outra realidade, porem muitos acreditavam serem espectadores e ouvintes de pessoas que estavam conseguindo criar um novo modo de vida

do mesmo modo que acreditamos ser apenas plateia da realidade que vivemos hoje

para os que assumem a criação fica o trabalho de transmutar crenças, hábitos, ações e fazer parte efetiva dessa criação, para os outros surge o conflito

pensando-se incapaz da mudança resta sonhar com uma outra realidade enquanto investe todas as suas ações no velho paradigma

por isso não há escapatória, precisamos trabalhar sobre nosso modo de vida, o trabalho é em nós para que a transmutação aconteça

e o trabalho sobre nós mesmos não acontece isolado do mundo, dentro de nós, em particular

o trabalho em nós é publico e acontece no entre, no fora, na relação, em ato, na ação, com o outro, no mundo

porque se começamos a querer mudar o paradigma mudando o mundo, traremos junto as mesmas crenças e hábitos tão presentes em nós e que determinam nossas ações e que mantem viva essa realidade não desejada

e o resultado disso será um refinamento, uma melhora do que não está bom, mas o que está ruim continuará sendo produzido por nós

será somente uma teoria, uma ideia, a intelectualização de um novo paradigma, mas na pratica continuaremos com as mesmas ações

e não são as ideias, nem os conhecimento, nenhuma teoria que nos transformam, mas sim a pratica cotidiana de desinvestirmos os nossos hábitos, as velhas crenças, o modo de vida impotente, pois assim, aos pouco, essa realidade não desejada vai desaparecendo, e em seu lugar surge a realidade que queremos, que merecemos, que somos responsáveis e criadores

mãos a obra!



30.8.12

LA EDUCACION PROHIBIDA

esse documentario argentino que está totalmente disponivel na internet para assisti-lo, copia-lo, exibi-lo, transforma-lo...será nosso ponto de partida para uma roda de conversa sobre mudanças de paradigma na educação, que acontecerá amanhã, dia 31 de agosto, a partir das 19hs, na casa jaya

irei compartilhar minhas vivencias com meus filhos fora da escola e com outras familias que tenho acompanhado nesse intenso e maravilhoso processo

caso alguem tenha interesse em exibir o filme para algum grupo e quiser organizar uma roda de conversas, conte comigo!

5.8.12

ENCONTRO COM O SILENCIO

na educação ativa todos estão aprendendo, crianças, adultos, educadores, especialistas...

aprender não é aquisição de conhecimento, não é um processo aditivo

não pode haver julgamento e nem avaliação

todo aprendizado se inicia no encontro com a gente mesmo

aprender é liberador de energia

é motivador de ação

estive por 11 dias na chapada dos veadeiros, na vila de são jorge com minhas duas filhas

só nós três

na imensidão da natureza

em suas cachoeiras, rios gelados

um céu sem fim

me dei conta que poderia estar em silencio ao lado delas

sem direcionar seus olhares

sem precisar entrete-las, convence-las, nem guia-las em um ambiente que tão claramente se impõe e define suas regras

com o silencio veio a presença indispensável para estar com duas crianças pequenas em trilhas, pedras, rios, correnteza, quedas d´aguas

com a presença veio o ritmo

um ritmo muito mais dilatado do que no cotidiano paulista

com o ritmo veio a confiança

e a afirmação dos interesses de cada uma de nós

11 dias de silencio, presença, ritmo, confiança, afirmação...

juntamente com os banhos de rio tivemos o encontro de culturas populares

12 tribos indígenas compartilhando seus modos de vida

muitos shows de musicas de raízes de todo país

muita dança


circo

rituais

vida comunitária

nada ensinei as minhas pequenas, deixei-as livres para olharem para o lado que lhes interessavam

cessei todo conhecimento sobre mim mesma e sobre elas

observar, olhar, escutar, sentir, tudo isso faz parte do aprender

e não aprendemos se já sabemos, é necessário esvaziar-se de todo conhecimento

só me restava o silencio e a presença

foi libertador!

de volta a são paulo a afirmação que não se direciona o aprendizado

aqui estão elas cantando, dançando, se pintando como os índios

tocando instrumentos

brincando de repentista

tudo o que nos permeou nos nossos dias na chapada está aflorando em cada uma de nós nesses dias aqui em casa

cada uma do seu jeito

sem duvida aprendemos muito, sem saber, sem julgar e nem avaliar

simplesmente aprendemos
























17.6.12

ESCOLA PARA O SER


acreditamos que o ser humano é um ser racional.

o ser humano possui a condição racional, porque pensa e sabe que pensa.

mas isso não é o suficiente para sermos denominados seres racionais, isso só seria verdadeiro se fosse possível para o ser humano ter ações, reações, relações, primeiramente racionais.

a realidade é que somos seres emocionais!

pensamos, sentimos e agimos conforme nossas emoções, e a razão só consegue nega-las ou justifica-las, ou na melhor das hipóteses, dar-se conta de nossas emoções.

a emoção define o que sentimos, como agimos e como pensamos.

nossa cultura, assim como nosso sistema escolar, ilude-se ao criar condições de desenvolvimento prioritariamente racionais, desinvestindo ao máximo nossa condição de seres emocionais.

por mais que tenha sido feita essa inversão, nossa natureza não se convenceu, e não nos permitiu trocar o ser emocional pelo ser racional.

e o que não se desenvolve se atrofia, assim nos tornamos seres emocionais atrofiados com razão desenvolvida para negar ou justificar nossas emoções.

para suportar essa forma aleijada de ser, nos apoiamos no poder, recurso necessário para seres racionais.

quando nos assumimos seres emocionais, e investimos no desenvolvimento dessa condição, encontramos a potencia.


quem tem potencia não precisa do poder, inversamente, todo impotente busca a qualquer custo o poder.

e o que vemos nas escolas do nosso sistema corrente? crianças, adolescentes e adultos incentivados a buscar o poder.

e por que?

porque, nesse sistema escolarizado nos padrões atuais, desinveste a potencia, que só é possível ser desenvolvida juntamente com nosso desenvolvimento emocional.

e nós, pais e educadores dos dias de hoje, fomos educados para o poder, porque fomos educados para a impotência.

e assim educamos nossos filhos e alunos.

a cara do poder contemporaneo se apresenta de vários modos diferentes.

o mais grosseiro de todos é o uso do castigo e da ameaça, que nada mais é do que o retrato de um adulto impotente diante de uma criança, que em nome do papel de educador, ameaça e/ou castiga a criança que está fazendo algo que não deveria ser feito.

quando tentamos refinar o uso de nosso poder, nos tornamos mais positivos educando através da promessa e/ou premiação, promete-se uma recompensa para que a criança mude suas atitudes indesejadas.

até que nos damos conta que castigar e premiar são dois lados da mesma moeda, e criamos um modo mais sutil do uso do poder através da razão, o adulto explica, justifica, intelectualiza, e tenta convencer a criança a mudar de atitude.

mas, e se a criança, com todo esse cuidado, não reage do modo que o adulto deseja?

provavelmente ele culpará a criança por não estar a altura de sua explicação e aplicará o modo menos sutil de poder querendo trocar sua obediência por um beneficio, mas se mesmo assim aquela criança insiste em não mudar o adulto apelará para a ameaça...

somos ou não impotentes e desejosos de poder?

observação: não estou colocando em discussão a ação da criança, e sim, a do adulto, ou melhor dizendo, creio que o adulto poderá ajudar a criança a se desenvolver e a responsabilizar-se por seus atos, mas não através do uso do poder, que só irá reforçar a formação de uma criança impotente.

a saída para essa triste situação é começar a investir no desenvolvimento de nossa potencia, no desenvolvimento de nossa condição de seres emocionais.

precisamos de uma educação para potencia, de uma escola para o ser, para crianças, para pais e educadores.









18.5.12

SEM UMA ESCOLA PARA CULPAR!

a maior dificuldade de não ter os filhos na escola é não ter a quem culpar!

porque filhos que não frequentam escola também fazem coisas terríveis.

aprendem musicas e danças de gosto discutível.

deixam escapar palavras de baixo calão.

pegam piolho.

se rebelam!

onde aprendem tudo isso? e o pior é não ter uma escola para jogar a culpa.

crianças que vivem sem escola não estão isoladas do mundo, captam tudo no ar, estão ligadissimas.

assim são as crianças!

porem mais importante do que "o que aprendem", é como lidar com a criança e suas aventuras.

criança precisa de acolhimento, de amor incondicional, de respeito, mesmo quando elas apresentam atitudes difíceis de serem aceitas.

a moda passa, e logo a criança deixa de lado a musiquinha irritante ou a dancinha provocadora, mas o que fica é o acolhimento, a certeza de que o amor e a confiança nela não se abala por conta de suas experimentações.

não se ama uma criança pelo seu comportamento, ou por suas habilidades.

ama-se uma criança por sua existência.

pela confiança que se tem em sua existência.

e para confiar em uma criança, é necessário confiar em si mesmo.

confiar na própria existência.

não por seus sucessos ou reconhecimentos ou capacidade de ganhar dinheiro...

mas por sua existência.

amor incondicional.

não se espera um comportamento impecável das crianças que não frequentam a escola.

espera-se um mergulho dos pais em sua capacidade de confiar na vida, de confiar em si mesmo e sem duvida, confiar na criança.

assim da para viver sem uma escola para culpar!






28.4.12

UMA OUTRA VIDA

escolarização nos faz pensar de modo linear, parcial e cheio de dualidades.

onde o que não está certo, está errado.

se não é verdade, é mentira.

porém a verdade não tem oposto, assim como o amor não tem oposto.

quando pensamos de modo conflituoso, nossa experiência se torna a única referência, então sempre achamos que qualquer outro modo de vida é o oposto do que estamos vivendo.

por isso é muito difícil pensar na desescolarização quando nossa experiência é a da escolarização, pois pensamos como vidas opostas.

a desescolarização não é o oposto da escolarização.

viver sem-escola não é o oposto que viver com-escola.

uma das minhas surpresas na experiência com filhos fora da escola, tem sido o quão diferente é de tudo que eu poderia ter imaginado antes.

as questões escolarizadas sobre a desescolarização geralmente são:

como seus filhos vão receber conteúdo e onde eles irão acessar todo conhecimento? já que a escola oferece conteúdo e conhecimento.

como seus filhos vão conviver com outras crianças? pois na escola as crianças convivem com outras crianças.

quem será o professor de seus filhos...?

a escola prepara para o vestibular, para o futuro! qual será o futuro de seus filhos?

e por aí a fora.

acontece que a vida sem-escola, na pratica do unschooling (não-escola) diferente do homeschooling (escola dentro de casa), é uma mudança de paradigma geral, sem a possibilidade de comparação com a escola.

antes do conteúdo, do conhecimento, da "socialização", do professor, do vestibular, do futuro, existe o presente, uma criança singular, uma relação com essa criança, um olhar, uma escuta, a observação, um encontro...

ao estar diante de uma criança, mais do que qualquer coisa, é necessário ter um corpo sensível e presente, com os sentidos acordados.

é nesse "entre" como falei no post anterior, o encontro entre o adulto e a criança, que surge um caminho, é nesse "entre" que cria-se um insight.

a partir do insight a ação acontece.

tudo isso é incomparável com o paradigma escolar, e para conhecer essa mudança de paradigma é necessário viver a experiência.

a desescolarização não é uma alternativa, é uma outra vida.

15.3.12

DESCONCEITUALIZANDO A DESESCOLARIZAÇÃO

os sentidos das palavras são dinâmicos, ainda mais quando se trata de uma palavra que não consta no dicionário como o caso da desescolarização.

porem não acredito que a busca deva ser a clareza verbal, porque procuro não ter uma vida diária conceitual e sim viver em ato.

muitas vezes acreditamos em conceitos que não praticamos em nossa vida cotidiana.

primeiro, eu comecei a viver a desescolarização, antes mesmo de pensar nesse termo, só não queria ser mais uma no coro "queria muito viver de outra maneira, mas a realidade não permite!"

a quem estamos remetendo a responsabilidade dos nossos modos de vida?

de onde veio a ideia que a realidade está pronta e que precisamos aprender a fazer parte dela??

onde aprendemos a sentir tanto medo do aqui e agora???

eu acredito ter aprendido tudo isso e muito mais (competitividade, comparação, julgamento, especulação, ser carreirista, a desconexão corpo/mente...) na escola, e se não foi na escola, certamente foi la que por muito tempo pratiquei esse modo de vida.

para mim o problema central da escolarização é que além de praticar todos esses conceitos que citei acima, os alunos estão a serviço das aulas, da programação pedagógica, do conhecimento, dos conceitos; fazendo com que os alunos se afastem cada vez mais de si mesmos e seus desejos, a ponto de ser necessário fazer um teste vocacional para saber em que área vai render melhor, a serviço de um sistema que precisa continuar a ser alimentado para existir.

a escolarização nos torna negligentes em nossas vidas e relações.

porem a escolarização é um padrão, então primeiro caí na armadilha de querer mudar o padrão, rejeitando um modelo escolar vigente e aceitando um novo modelo escolar, até perceber que continuava presa em padrões e em sistemas.

por isso a desescolarização não é um padrão, não é uma alternativa, não é uma rebeldia contra a escola.

desescolarização é abrir mão de todas essas praticas escolarizadas, é olhar para si mesmo nas relações, é criar seus desejos ao dar-se conta de como está o mundo, seu país, sua cidade, sua comunidade...

é tornar-se diligente em nossas vidas e relações.

krishnamurti escreve lindamente sobre esses dois termos, em suas palavras:

"...diligência implica cuidado, vigilância, observação e um profundo senso de liberdade...a negligência é indiferença, preguiça; indiferença para com o organismo físico, para com o estado psicológico e indiferença para com os outros...
...o habito, a rotina é o inimigo da diligência - o habito do pensamento, da ação, da conduta...a mente que é diligente não tem habito, não há padrão de resposta..."


na minha experiência foi com a técnica alexander que aprendi que não existem bons e maus hábitos, existem hábitos, e só o viver no presente dissipa o habito.

não é através dos idealismos, dos conceitos, nem do conhecimento, que vamos transmutar nosso modo de vida, e sim pelas ações, pelas relações, pelo cultivo do "entre", não é dentro (de nós) nem fora (na sociedade), a realidade se cria no "entre" o dentro e o fora.

a desescolarização deixa esses "entres" vivos, sendo sempre um ato de criação.

25.2.12

SOCIEDADE HIPÓCRITA

uma das questões mais recorrentes quando se fala em unschooling é o mito da socialização.

todos que praticam o unschooling sabem que esse não é absolutamente um problema real para as crianças que não frequentam escolas.

mas, parece-me, que os frequentadores de escolas do nosso sistema vigente estão sofrendo um processo anti social sem se darem conta disso.

a escola cria sérios problemas de socialização.

para desenvolver essa afirmação, vou usar um trecho de um texto brilhante do biólogo humberto matura do livro - a árvore do conhecimento, pg269.

"...a aceitação do outro junto a nós na convivência, é o fundamento biológico do fenômeno social. Sem amor, sem aceitação do outro junto a nós, não há socialização, e sem esta não há humanidade. Qualquer coisa que destrua ou limite a aceitação do outro, desde a competição até a posse da verdade, passando pela certeza ideológica, destrói ou limita o acontecimento do fenômeno social. Portanto, destrói também o ser humano, porque elimina o processo biológico que o gera. Não nos enganemos. Não estamos moralizando nem fazendo aqui uma prédica do amor. Só estamos destacando o fato de que biologicamente, sem amor, sem aceitação do outro, não há fenomeno social. Se ainda se convive assim vive-se hipocritamente, na indiferença ou na negação ativa."

sendo assim, conviver socialmente é praticar a aceitação mutua incondicional.
aceitar verdadeiramente a diferença.
viver de modo colaborador, afirmando as diferenças, fazendo bom uso delas.

paradoxalmente, a criança começará a ter gosto pelo social quando entender-se como singularidade.
por isso um caminho necessário para tornar-se um ser social, é conhecer-se a si mesmo.

nenhum conhecimento que não nos afete diretamente, poderá ser útil para nosso desenvolvimento social.

por essas e outras a escola com suas praticas de competição, comparação, punição, classificação, ideologias, posse da verdade, etc, etc, torna-se um ambiente potencialmente anti social e gerador do conceito - sociedade hipócrita.

já não percebemos mais o quanto nos relacionamos de modo hipócrita com as crianças, quando nos dirigimos a elas mudamos o tom da nossa voz natural, as subestimamos intelectualmente, queremos ensina-las o tempo todo porque acreditamos que sabemos a verdade, somente a aceitamos de modo condicionado.

não estou dizendo que nós pais e educadores não temos nada a fazer em relação as crianças.
temos que criar um ambiente propício para que ela se escute, se conheça, perceba sua plasticidade, sua habilidade em se transformar, em se recriar.

para isso, é inevitável que esse adulto se escute, se conheça, saiba da sua plasticidade e de sua habilidade em transformar-se. em recriar a si mesmo, a sua realidade, a sua sociedade, o seu mundo.

22.2.12

CRUDIVORISMO

nosso projeto de educação ativa contempla a mudança de muitos paradigmas, entre eles a alimentação.

como todo processo desescolarizante, não podemos crer que exista de forma generalizada, um unico e ideal modo de se alimentar, nem que essa seja uma decisão de fora, onde alguem, para o bem ou para o mal, determine como deve ser nossa relação com o alimento.

como inspiração, queremos conversar com pessoas que quebraram o paradigma da alimentação convencional, e encontraram sua liberdade e sua criação em um assunto tão complexo como esse.

nossa conversa será com carme mampel, crudivora ha 18 anos.

nas palavras de carme: “O crudivorismo não é só uma dieta saudável, uma porta aberta a uma vida sem doenças nem dor, é também uma ato de liberdade, de amor ao planeta, um canto a perfeição da Criação e agradecimento a Deus por ter dado a você um corpo que funciona maravilhosamente só por dar a ele o que é preciso. O crudivorismo é um ato de afirmação da dignidade humana, da sua inteligência e autonomia ante os poderes que querem submeter as pessoas através da confusão mental e da doença. E tudo isso sem sacrificios, na verdade, no crudivorismo liberdade e prazer são um!”


Será no dia 3/03/2012, sábado, das 16hs as 18hs.

Local: Pranna – Bioloja
Av. Artemio Dorsa, 118 – Jd. São Jose
Bragança Paulista – SP








Evento Gratuito!

18.2.12

TRABALHO É COISA DE CRIANÇA!

um dos grandes males da escolarização, é que aprendemos a praticar a segmentação da vida.

tem hora para o trabalho e hora para o lazer
hora de mexer o corpo e hora de estimular a mente
etc

e suas subdivisões,
hora de trabalhar a mente direcionada as matérias humanas, e hora direcionada as matérias exatas
hora de cuidar do físico, hora de cuidar do "psicológico"
etc

por isso que eu digo, que mesmo que a escola faça suas pequenas reformas, ela continua com sua escolaridade nociva.

assim chegamos a vida adulta reproduzindo essa cisão onde seguimos criando uma vida fragmentada.

quando uma mulher tem um filho, cria-se um conflito entre vida profissional e vida materna, e se ela opta por dedicar-se totalmente a vida materna, surgem outros conflitos, entre os deveres da casa, as necessidades pessoais e a atenção ao filho.

e por mais que temos condições de amenizar esses conflitos de modo pratico, seguiremos com o conflito de modo existencial, pois treinamos durante toda a vida escolar, esse modo segmentado de ser.

quando nos desescolarizamos desse paradigma, começamos a nos dar conta que viver não é cumprir funções, e ficar como equilibrista entre múltiplas tarefas.

vida boa também não é vida sem problemas e cheia de prazer.

é só conviver com uma criança para sentir que antes de qualquer direcionamento, o que ela precisa, essencialmente, é "condições para produzir vida."

criança não gosta de problema imposto, ela gosta de problematizar suas próprias questões.

criança não gosta necessariamente de brincar, a não ser que elas estejam produzindo vida com o brincar, mas brincar para se distrair, para matar o tempo, para desenvolver coordenação motora entre outros desejos dos adultos, dessas brincadeiras, as crianças não gostam.

criança gosta de fazer coisas de verdade.

alias, criança adora trabalhar!

criança gosta de fazer brincadeira virar coisa seria!

o interessante é que não existe uma unanimidade entre o que as crianças gostam de fazer.

mas todas elas gostam de se sentir produzindo, cada uma do seu jeito particular.

nossa questão é permitir que se apresente o modo que cada criança deseja produzir sua própria vida.
(coisa que nenhuma escola se propõe, a dar esse tempo e espaço para que cada criança apresente seu caminho de desenvolvimento e potencialização).

hoje, minha filha de 5 anos me chamou com os olhos cheios de brilho para eu ver todas as camas arrumadas com muito capricho, que ela mesma tinha feito, e pra surpresa dela, ela também conseguiu arrumar nossa cama, minha e de meu marido, que é um futton no chão de 2mx2m.
que alegria ela sentiu ao ver sua linda obra!

mais tarde, o pai foi lavar o quintal e ela pediu para ajudar, ele disse: "deixe eu terminar o trabalho que eu te dou a mangueira para você brincar um pouco"; e ela respondeu, "eu não quero brincar, quero trabalhar de verdade!"

e assim ela vem conquistando seu espaço em todos os lugares da casa.

na cozinha, já mexe com faca, fogão e eletrodomesticos.
além de lavar louça e arrumar a mesa.

diz que, entre outras coisas, quer ser cozinheira, e por isso precisar treinar.

e assim a gente vai aprendendo que para criança obrigação vira diversão.

mas a coisa não para por ai, alem gostar de trabalhar, criança não está preocupada em sentir prazer e evitar a dor.

elas adoram um desafio, o que inclui dor, frustração, disciplina e claro, muitas emoções, como frio na barriga e alegria.

uma outra caracteristica especifica da nossa pequena, são as conquistas corporais.

quer dominar patins, bicicleta sem rodinha aro 20, trepa-trepa extenso, circo, e uma vez que consegue dominar cada uma dessas coisas, começa a experimentar fazer o mesmo, mas de olhos fechados.

o pai quase tem um enfarte a cada semana, primeiro de pânico, depois de orgulho!

a questão é essa, permitir que as crianças trabalhem, desde muito pequenas!

e que escolham seus trabalhos, seus desafios, suas dores e suas alegrias.

quando uma criança não tem espaço e tempo para "produzir", ela vai buscar preencher esse desejo com o "consumir", ela deixa de ser uma produtora nata, para ser uma consumidora insaciável.

viver o cotidiano com uma criança "produtora" é completamente diferente do que viver com uma criança "consumidora".

a sorte é que nenhuma criança nasce consumidora, e que toda criança nasce produtora.

mas como sempre, para poder criar essa condição de desenvolvimento da criança, é necessário primeiro, criar essa condição em nós mesmos.

ser inteiro na vida, sempre, isso é desescolarização!

13.2.12

EXPOSTA E NUA!

a desescolarização é um caminho de cura.! assim edilberto e tatiana finalizam seu post a compulsão a educar

a desescolarização tem sido um caminho para minha cura!

"ser e estar" ao lado das crianças com a pratica da desescolarização, tem sido o modo mais intenso e direto de conhecer a mim mesma.

estar com crianças ativas, criativas, cheias de vida não é difícil, o difícil é estar comigo mesma sendo revelada em todas as minhas marcas tão estrategicamente escondidas na vida dita social.

quando alguma situação das crianças me tira do eixo, me deixa nervosa, ou chateada, ou preocupada, ou com qualquer outro ressentimento, ao invés de tentar resolver o problema aparentemente provocado por elas, eu me pergunto "o que estou sentindo?", e uma avalanche de imagens, marcas, memorias, me invadem.

nesse momento já não preciso perpetuar o sentimento, deixo de projeta-lo nas crianças; sem mergulhos psicológicos, ou busca de justificações para o que sinto; entrego o passado ao fluxo, abro mão dele, e afirmo o presente, e em segundos, já não estou dominada pelo ressentimento, e então posso me relacionar verdadeiramente com as crianças e com a situação que provocou todo esse movimento.

tem sido um treino diário, nada fácil, apesar de muito simples, é só o que chamamos de estar aqui e agora.

e essa presença tem sido essencial para que as crianças tenham espaço para desenvolver suas potencias.

definitivamente a parte mais difícil de desescolarizar, na presença de crianças desescolarizadas, é o encontro constante comigo mesma.

um encontro que raramente acontece quando se está cumprindo funções no trabalho, em casa ou até mesmo com as crianças.

um encontro que não acontece quando estamos distraídos enfrente a t.v. ou passeando pelo facebook.

tampouco acontece quando estamos vivendo "socialmente" onde vestimos mascaras, e especulamos possibilidades e oportunidades.

com expressão assustada, com um toque de vergonha, muitas mães me perguntam: "como você consegue ficar tempo integral com suas filhas?" mas com a mesma expressão, a pergunta correta seria: "como você consegue ficar tempo integral se encontrando com você mesma?"

e a reposta é animadora:
quanto mais tempo estou com as crianças, mais fácil fica!
quanto mais tempo estou comigo mesma, mais fácil fica!

quando penso em como nos afastamos tanto de nós mesmos, nos tornando seres "sociais", sempre ocupados com uma tarefa, com uma função, com uma militância, sempre para fora de nós mesmos, fica claro que esse é o processo que começamos la na primeira infância, dentro de uma escola.

mas esse é um assunto para um próximo post.

28.1.12

O PARTO E A EDUCAÇÃO

ana cristina duarte, parteira que gera um importante movimento de parto humanizado no brasil, idealizadora do gama, sugeriu uma equivalencia entre os procedimentos de parto e de educação.

para quem está familiarizado com os procedimentos de parto, fazer essa analogia, é um atalho para a compreensão dos processos educacionais.

atenção: a brincadeira refere-se a procedimentos de partos e não uma critica a escolhas pessoais.

vamos brincar

modelo vigente escolar:
tem escola que é como a cesaria eletiva
outras como a cesaria desnecessária
e tem também as escolas análogas ao parto normal hospitalar cheio de intervenções e com maltrato físicos e emocionais

homeschooling:
pode ser como o parto humanizado hospitalar de uma gestante de baixo risco mas que sente necessidade de um medico, toda sua equipe e o aparato hospitalar por necessidade de garantias

unschooling:
parto humanizado domiciliar do segundo filho assistido por parteira e doula muito experientes.

educação ativa:
o terceiro filho nascido de parto humanizado domiciliar, desta vez orgasmatico, assistido por parteira e doula extremamente experiente.

oxala, todas as mulheres possam ter a escolha de parir seus filhos na educação ativa!

19.1.12

NOSSO INCIO SEM ESCOLA!


como tudo começou?

meu filho entrou em uma escola construtivista com três anos, onde eles incentivavam as crianças a criarem seus próprios projetos.

um de seus projetos, junto com um amiguinho, foi planejar e cavar um buraco rente ao muro da escola para criar um túnel para fugir da escola!

aos 6 anos ele entrou em uma escola waldorf em londres, onde vivemos por 3 anos.

aos 9, de volta ao brasil, ele seguiu em uma escola waldorf em são paulo, e aos 13 anos começou a acordar todos os dias dizendo "eu odeio escola".

aos 15 anos, ao finalizar o ensino fundamental, eu aceitei seu pedido incessante de sair da escola, desde que ele seguisse um projeto que iríamos criar para ele.

para iniciar o projeto, pensamos em um processo de desintoxicação, que ele pudesse entrar em contato com um espaço interior, com um vazio, para que fosse construído algo a partir de um desejo genuíno.

a cada dia ele tinha uma atividade da qual ele apresentava afinidade e um gosto pessoal.
nas manhãs: aula particular de musica, um grupo de artes plásticas, um grupo de filosofia, aula particular da técnica alexander e um encontro comigo de escrita e literatura; uma aula para cada dia da semana.
todos os dias, as 18hs, aula em grupo de aikido.

e muito tempo livre, sem ocupações com t.v., vídeo game ou computador; tempo livre mesmo, sem fazer nada, até que surgisse um desejo, sem interesses ou intenções.

em 5 meses surgiu um desejo genuíno de aprender magica!

logo, todo seu tempo livre ele usava para aprender, praticar e ler livros (pela primeira vez na vida), ler sobre magica.

a magica incentivou vários outros interesses, como línguas, culturas, viagens, historia...

em seu segundo ano desescolarizado, ele já era magico profissional, começou a participar de congressos na inglaterra, na guatemala, na argentina e no brasil.

não tinha mais tempo para fazer meu projeto, ele ja tinha seu próprio projeto!

escolheu um tutor em buenos aires e fez imersões por la.

conheceu mágicos do mundo todo.

alem de desenvolver suas habilidades, técnicas e materiais, virou um pesquisador, conhecendo a historia da magica, e todos os seus caminhos.

participou de um concurso, para ganhar experiência, e ganhou o primeiro lugar!

mais importante que a premiação, foi ver sua postura e sua percepção de um caminho que ele está apaixonadamente trilhando.

eu acredito que todos os adolescentes tem um caminho apaixonante para trilhar.

e eu estou aprendendo a confiar no desejo genuíno, na capacidade de aprender, na motivação de desenvolvimento que toda criança/adolescente tem.

aprendo também que o mundo é a "sala de aula", e que eles podem escolher (muito bem) seus tutores (meu filho, sem nenhuma inibição, escolheu um campeão mundial de magica, que mora em outro país, como tutor).

assim, crianças crescem para criar seu campo de trabalho, suas produções, seu modo de viver, sempre guiado por sua potencia e desejo de vida!

17.1.12

SEM CAMUFLAGEM!

certamente todas as escolas e sistemas de ensino tem algo de bom.
porque tudo tem algo de bom.
até mesmo o fim do mundo tem algo de bom!

o problema está na parte ruim da historia.

e podemos afirmar que todas as escolas tem algo de ruim.

a começar por professores, funcionários e administradores que foram escolarizados no modelo escolar vigente

um modelo que nos faz acreditar que o aprendizado vem de fora, é dependente do conhecimento, é pré-determinado, acontece de forma hierárquica, é fragmentado, é intencional...e principalmente, nos ensina a não confiar nas crianças.

por isso, todos os modelos reformistas e com propostas de um novo modelo escolar, acabam não resolvendo a parte ruim da escolarização.

escolas waldorf, escolas democráticas, construtivistas...acabam sendo só um método a ser seguido, e não uma abertura para transmutar a relação ensinar/aprender; continuam a ensinar algo de fora para dentro, a pré-determinar o conteúdo, a fragmentar o ensino, a manter relações hierárquicas, a não confiar nas crianças e com o risco de ter tudo isso muito mais camuflado do que nas escolas assumidamente autoritárias.

e nossas crianças continuam sem um ambiente propicio para desenvolverem seus potenciais, sua capacidade de pensar e a condição de se tornarem homens e mulheres potentes, verdadeiramente alegres e criadores de comunidades ativas.

6.1.12

VAMOS FAZER ACONTECER!

edilberto e tatiana publicaram um lindo post, esclarecendo de modo lúcido, acessível e absolutamente inspirador, sobre o "modelo" de educação desescolarizada.

por favor leiam! (é só clicar no nome deles ou aqui para direciona-lo ao blog desescolariza)

após a leitura só nos resta pensar em como, efetivamente, colocar em pratica, o inquestionavel, para o desenvolvimento pleno de nossos filhos.

provavelmente, todos que se interesse pelo assunto, ao ler o post, concordariam que nosso sistema educacional ainda está bem atrelado a descrição do "modelo escolar vigente" da primeira coluna, e ficariam felizes com o "novo modelo escolar" que é descrito na segunda coluna.

acontece que, como todos vivemos dizendo, as mudanças são muito rápidas, e o "novo modelo escolar" já é ultrapassado para a geração atual em idade escolar, não tenho duvida que eles já estão prontos para o "modelo desescolarizado de educação".

assim fica claro que o problema não está na nova geração, mas nas gerações que foram educadas pelo modelo vigente e que sofre em pensar em transmutar para o novo modelo, que o diga conseguir vislumbrar o modelo desescolarizado.

então temos duas opções, exterminar todos acima de 18 anos e liberar a garotada para se desenvolverem sem serem atrapalhados, ou nós, pais do século passado, aceleramos nossos processos e mudamos nossos paradigmas.

a primeira opção seria muito trágica, então sugiro que enfrentemos a segunda opção, quase tão difícil quanto a primeira, mas menos sangrenta.

humores a parte (sim estou muito bem humorada por encontrar aliados tão inspiradores como edilberto, tatiana, cassia...na certeza que essa lista crescerá dia a dia), e vamos agir com coragem - cor-agem = ação do coração, e vamos transmutar, nos desescolarizar, confiar na vida; estar verdadeiramente ao lado de crianças, é um caminho promissor!

como mais uma das infinitas fontes que podemos encontrar, tentarei publicar aqui nesse blog, nosso dia a dia desescolarizado; não como modelo, porque sinceramente acredito que cada familia irá encontrar seu modo de educação, mas para compartilhar que não é utopia, na verdade, é muito mais facil do que imaginamos!