25.6.15

SER OU TER!

uma amiga querida me pergunta ``agora que sabemos, o que fazemos da nossa vida, da nossa existencia?``

um caminho a seguir será estar mais atento ao SER do que ao TER

o problema é que com o nosso distanciamento do SER desde a mais tenra infância, confundimos muito e acabamos investindo no TER mesmo querendo SER

pensamos assim

eu SOU mãe - e invisto em TER filhos
eu SOU artista - e invisto em TER uma profissão
eu SOU maria - e invisto em TER um nome
eu SOU discípulo - e invisto em TER um mestre
eu SOU um mestre - e invisto em TER discípulos 
eu SOU alto - e invisto em TER um padrão corporal
eu SOU medrosa - e invisto em TER medo
eu SOU uma boa pessoa - e invisto em TER reconhecimento e aceitação 
eu SOU saudável - e invisto em TER saúde
eu SOU um ativista - e invisto em TER confrontos
eu SOU religioso - e invisto em TER uma religião
eu SOU inteligente - invicto em TER conhecimento
etc, etc, etc

o SER não é TER uma referencia, uma aparência, uma profissão, um nome, uma devoção, uma pratica, uma função, um ideal… 

assim o SER será somente um funcionário do TER, obedecerá regras, jogará o jogo pre estabelecido, precisará de leis, de comando, de ordem, de punição, de reconhecimento, de recompensa, de significado, de metas, de controle, de segurança, de garantia…

então o que é o SER?

o SER é o SER da potência 
o SER da criação
o SER que se auto produz e que se cria constantemente
o SER que é responsável pela realidade que vive
o SER do inédito, que pode TER muitas coisas mas não cai na ilusão e no comodismo de TER, e continua o encontro com o SER
o SER que é composto por muitos fluxos onde alguns fluem, outros estagnam-se, e que estão sempre em transformação com a relação
o SER do mundo próprio que relaciona-se constantemente com o meio ambiente
o SER da relação 
o SER em criação

é isso que precisamos aprender a acessar, ja que nascemos com esse acesso, mas que desde nosso nascimento aprendemos a desinvestir esse caminho do SER e batalhamos para que nossa vida TENHA sentido

a vida do SER não precisa TER sentido, a vida do SER é legítima e incondicional

e como viver isso no cotidiano?

reaprendendo a viver no presente, no aqui e agora
deixar de investir em ideais, na esperança de que um dia tudo vai melhorar, nos planos, na especulação…

investir no sentir, nas percepções, na intuição, no vazio da mente que nos coloca em contato com as mil possibilidades

agir com coragem - ação do coração

medite diariamente, esvazie a mente, entre em contato com o SER, torne-se o SER

mas não se iluda porque voce poderá simplesmente TER uma pratica de meditação

e o que precisamos é SER a meditação


23.6.15

RELAÇÕES INTIMAS!

depois da noite transmutadora que vivi, contada no post anterior, começaram a sair feridas pelo meu corpo, elas inflamaram, infeccionaram…
comecei a perceber que estava em um processo de limpeza, provavelmente me intoxiquei com algum alimento, mas sei que o que vem de fora só se desenvolve caso haja um campo propicio interno, me dou conta que meu corpo está totalmente ácido e começo a pensar o que deixaria um corpo ácido sem que se tenha mudado a alimentação, e compreendo que 
as emoções podem acidificar o sangue…
tento entrar em contato com que emoção está me acidificando, 
descubro uma tristeza…
lembro-me do filme do sebastião salgado e de sua história onde de tanto ver cenas tristes e entrar em contato com a morte seu corpo produziu uma doença auto-imune que foi gerando uma auto destruição…
penso nas tantas histórias tristes que me contam pessoalmente, por email, por telefone, as histórias que vivi, como a necessidade de encerrar o processo da escola rural que estava indo tão bem mas a nova direção da escola falou claramente que acima do interesse na educação estava o cumprir as leis e tomaram varias atitudes que demonstraram claramente que as leis não estão preocupadas com a educação de crianças reais, 
que tristeza; 
outras histórias de pessoas que estão se sentindo perdidas com seus filhos, com suas escolhas, crianças sendo medicadas, pessoas completamente desconectadas, 
adultos totalmente infantilizados…
nas minhas observações começo a reconhecer o ódio que os pais sentem por seus filhos, sei que a palavra é forte, mas é isso mesmo, ódio que aparentemente caminha lado a lado com o que chamamos de amor, mas o oposto do amor não é o ódio e sim a condicionalidade, 
pais condicionam seus filhos e se eles                                não correspondem geram em seus pais 
uma impotência, uma frustração, um ódio... 
e quando se arrependem ou sentem seus filhos correspondendo às suas condicionalidades 
sentem piedade, isso sim é o oposto do ódio… 
pais irônicos com seus filhos, que desqualificam seus desejos e pensamentos cada vez que os filhos não correspondem suas expectativas, pais que sentem vontade de bater, de castigar, de se vingar disfarçado na ideia de que está educando aquela criança para o convívio social, 
pais que acham bom a criança aprender desde cedo que a vida é sofrida e que é preciso ser forte, e acreditam que ser forte é ter poder sobre os outros, 
outro dia uma mãe reclamava por achar sua filha muito boazinha, tinha pena da menina prevendo que em um mundo tão cruel sua filha iria sofrer muito,
 e que ela precisaria ensinar a filha a 
ser mais egoísta e mais vingativa…
essa semana também ouvi uma mãe adotiva dizer que estava decidida a entregar seu filho, pois queria deixar de ser mãe dele, certamente ele não correspondia aos seus ideais de mãe que sonhou e desejou há 10 anos, 
ao adotar essa criança…
a tristeza também se apresenta na fantasia idealizada, 
famílias que estão vivendo a infantocracia, seus filhos são o centro da família e toda dedicação e sacrifício é para cria-los para serem pessoas felizes, uma expectativa pesada demais para qualquer criança carregar, tanta dedicação ainda custará muito para essas crianças/adultos…
também vejo entre os casais um ódio que se apresenta quando um deles tem o prazer de desqualificar o outro na frente dos amigos, em forma de piadas, de discussões ou até em brigas, 
e sabe-se lá o que acontece em suas intimidades

sem duvida eu estou muito ácida!

mas depois de reconhecer tudo isso, decidi limpar essa tristeza de dentro de mim, 
e aprender com esse processo o que realmente importa

  tudo isso está me trazendo uma clareza para a preparação para viver uma vida mais comunitária pois é o que muita gente tem procurado para poder 
criar seus filhos como diz o ditado 
“para criar uma criança é necessário uma aldeia’’,
 pois bem, se queremos viver em comunidade, em aldeia, em tribo, em comunhão, etc, etc, etc, antes de mais nada é preciso rever as relações íntimas, com aqueles que se tem a liberdade de revelar o nosso pior, a relação com o/a companheiro/a, com os filhos/as, com os pais, e principalmente consigo mesmo, 
e só quando essas relações forem 
saudáveis, harmoniosas, respeitosas e 
incondicionais, 
 estaremos prontos para arriscar o próximo passo e nos lançarmos para 
a verdadeira vida comunitária…

senão continuaremos na ilusão de que o ambiente externo irá nos possibilitar 
a transformação que tanto ansiamos…
é com as feridas abertas na pele, sentindo a desintoxicação, 
com todos os seus incômodos e inspirações 
que digo que o processo é antes de mais nada 
em nós mesmos…

que venha a saúde da existência, 
no físico, nas emoções, nas relações, na alma
deixando surgir o ser da potência em cada um de nós


14.6.15

ENTRE A IMORTALIDADE E A REPRODUÇÃO - CAOS E HARMONIA

a noite passada vivi uma experiência transmutadora...depois de ajudar as meninas a dormirem, fui para meu quarto e comecei a sentir calafrios, rapidamente coloquei um pijama quente e me enrolei em cobertas, os calafrios foram se transformando em um frio profundo nos ossos, tremia tanto que temia ter uma convulsão, o frio estava insuportável e o mal-estar aumentava, o marido em são paulo incomunicável em um set de filmagem, decidi ficar lúcida, mantive a calma com a respiração profunda e tranquila, e a tremedeira piorava, as dores nos ossos, enjoo, o corpo todo contraído, frio que eu nunca havia sentido antes, precisava de ajuda e logo pensei em uma cena do filme lucy*, alcancei o laptop e coloquei o filme, primeira frase do filme 
"a vida nos foi dada a um bilhão de anos, o que fizemos com ela?"
...enquanto o assistia fui vivendo muitas transformações, depois de um período de frio meu corpo começou a esquentar, a esquentar muito, senti a pele queimando, não suava, continuava totalmente coberta, e o calor aumentando...estava mais atenta a parte cientifica do filme do que a ficção, escuto o cientista dizer que as células de qualquer ser vivo tem dois caminhos, o da imortalidade e o da reprodução, quando o meio ambiente está em harmonia as células escolhem reproduzir, quando o mundo está em caos elas escolhem a imortalidade, ou seja, a autogestão, logo pensei em todas as experiências de autossuficiência que estamos vendo muitas pessoas experimentarem, como o desejo de plantar o que come, ou até de viver de luz, outros estão vivendo a auto cura, alguns construindo a própria casa, muitos saindo da vida "segura" se desvinculando de instituições e indo atras do desconhecido, outros em processos xamanicos, muitas comunidades surgindo...me parece que já estamos sabendo aproveitar o caos...estamos reconhecendo que ainda não sabemos o que podemos, até onde pode chegar o ser humano e o que acontecerá se desbloquearmos os fluxos de conexões para ampliarmos a potência, cada um a seu modo tem procurado o caminho da autopoiese, da auto construção nas relações...o filme seguia e as sensações no corpo cada vez mais intensa mas já sem incômodos (pois perto do que vive lucy)...volto a pensar no dia a dia e reconheço que por outro lado ainda existe muita destruição em nossas ações cotidianas, no modo como nos alimentamos, como nos relacionamos, como nos movimentamos...estamos criando a destruição por isso nossas células estão escolhendo acessar a possibilidade da imortalidade, muito sedutor a ideia de nos tornarmos imortais, porem o preço é alto, um grande paradoxo, para a imortalidade acontecer precisamos viver em caos, pois no equilíbrio e harmonia nossas células escolherão a reprodução onde  passaremos adiante nossa aprendizagem e conhecimento, morreremos e seguiremos nosso processo (não sei como nem onde)...isso é um convite para fazermos as pazes com a morte e reconhecer sua participação essencial na vida harmoniosa...lucy encontra a plenitude ao acessar 100% das conexões de seus neuronios, cada ser humano tem 100 bilhões de neuronios disponíveis para conexões, dizem que estamos nos 15% de liberação de nossas conexões, temos um bom caminho pela frente...os bloqueios estão na separação, acreditamos que somos uma pequena parte da nossa potência, chamamos essa pequena parte de "eu" e assim treinamos essa separação, aprendemos a super valorizar a mente e a colocamos em um lugar de ilusão e ficção, criamos uma identidade, uma individualidade, acreditamos nessa redução da existência, essa é a ilusão...o caminho para o todo pode ser o desinvestimento dessa separação, dessa ilusão, esvaziar para que a mente volte a seu lugar e se componha com outros fluxos para que o todo surja, e o vazio seja nosso estado diário, para que nesse vazio os fluxos possam criar conexões...o vazio de cada um de nós é único e singular, legitimo e incondicional para a construção nessa terra...bem vinda as transmutações físicas, emocionais, corporais...que venha a lucidez de aproveitar o caos pois dele surgira a harmonia que voltará a produzir caos e poderá nos levar a harmonia, essa é a dinâmica da vida...frase final do filme
 "a vida nos foi dada um bilhão de anos, agora sabem o que fazer com ela"
...o filme termina e já me sinto muito melhor, vou ao banheiro, vejo meus olhos vazios, mas cheios de vida, acho graça, volto para o quarto, olho a hora, 2:22, sinto a perfeição do tempo, e durmo no abandono da confiança...


*lucy - filme de luc bresson (não fuja do filme por conta da violência que ele contem, ela pode ser vista como analogia da violência que cometemos diariamente nessa produção de mundo caótico que ajudamos a construir)